sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Bom pai ou mau pai?

Poucos dias atrás passei por uma situação desagradável quando levava a Raíssa para escola. Relatar o acontecido é dar muito importância para o sujeito, mas o que me intrigou mais foi ele, sem motivo nenhum, virar e me dizer que eu não sabia ser pai.

Naquele momento preferi deixar isso pra lá mas fiquei com aquilo guardado em um canto da minha mente. Não foi a intenção de me ofender que me incomodava, pois eu nem me lembrava mais da cara do cidadão, mas algo na frase ficava reverberando em minha cabeça, insistentemente. Demorei para me tocar que o que me incomodava era o determinismo da questão de ser um bom pai.

Obviamente o sujeito se julgava um bom pai, e melhor do que eu. Quando deixei claro que não me interessava pela opinião dele ainda o ouvi gritar "eu tenho netos"! Claramente outro fator qualificante que o habilitava a questionar qualquer um que se atrevesse a ficar num raio de 2 metros de proximidade. Pois o fato de ter tido filhos o torna automaticamente uma autoridade em questões de paternidade, como qualquer tolo que não seja eu percebe claramente.

Numa interessante sequência de pensamentos lembrei de um outro caso que acontecera comigo uns três meses atrás. Eu conversava com um conhecido que cordialmente resolveu me esclarecer como o meu tempo era mal administrado, inclusive em relação a cuidar de minha filha. A frase começou com "eu sei que você é um ótimo pai, assim como eu sou um ótimo pai..." e por aí foi. Mas, quando ele disse isso, parei de prestar atenção por alguns segundos por causa da frase, e tive que me esforçar para acompanhar o resto do monólogo.

Porque, pode parecer estranho, mas as duas frases me incomodaram igualmente.

Quando minha filha nasceu, eu parei de trabalhar por cerca de um ano e meio para cuidar dela em tempo integral. Enquanto minha esposa trabalhava eu preparava mamadeira, fazia a papinha, trocava fraldas, dava banho, colocava para dormir... fazia tudo o que fosse necessário. Até hoje, quase sete anos depois que ela nasceu, ainda acompanho tudo o que ela faz, levo e busco da escola todos os dias.brincamos, fazemos lição, inventamos histórias,leio pra ela dormir e aprontamos muita bagunça!

Sou um ótimo pai? Ou sou um péssimo pai?

Não faço idéia.

Como você tem certeza que é um bom pai?Qual é o critério determinante que decide a questão? Qual é a receita básica infálivel que se seguida resulta num pai exemplar recém saído do forno?Ter vários filhos me torna um pai melhor por tentativa e erro? Ou o êxito na tarefa é alcançado se dedicando totalmente a apenas um herdeiro?

Ser pai na verdade é tentar acertar sem saber muito bem onde está o alvo. É seguir o que o instinto manda e torcer para estar certo. Pois não há sensação pior que ver aquele rostinho e pensar "eu errei!"

Por isso, não acredito que alguém possa se considerar um "Ótimo Pai!" Porque, se você já se acha um ótimo pai é porque está fazendo tudo certo, só precisa continuar cumprindo a meta... o nível de sua funcionalidade está satisfatório, então pode se sentir seguro porque, salvo imprevistos, a coisa vai muito bem, obrigado!

Bom, lamento, mas eu não posso pensar assim.

Ser pai é a coisa mais importante do mundo pra mim. Porque EU sou o PAI da minha filha. . Sou eu que ela vai procurar quando quiser um conselho paterno. Sou EU que estarei em suas lembranças cada vez que ela ler ou ouvir a palavra PAI. EU serei uma das principais referências para ela no futuro.

Como então eu posso me satisfazer com algo menos que a perfeição no que se refere a cuidar dela? E, como não consigo ser perfeito, não há como ficar satisfeito.

Tudo que posso fazer é me dedicar ao máximo a ela, e torcer para que meus erros sejam superados (e muito) pelos meus acertos.É estar ao lado dela todos os momentos possíveis e acompanhar orgulhoso sua jornada. E ter humildade para em alguns momentos dizer pra ela "desculpa, filha, eu errei".

Então, senhor do ônibus, pode ficar tranquilo. O senhor tem razão, eu ainda estou aprendendo a ser pai. E planejo continuar aprendendo até o fim dos meus dias.

Será um ótimo aprendizado!

Um comentário:

juliete disse...

Sinceramente não me lembro como vim parar nesse blog, mas certamente me lembrarei das suas palavras que me emocionaram e tanto, independente de ser pai, filho ou qualquer outra coisa uma coisa é certa estamos em constante aprendizado.