segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Don Juan Carlos

Acabei de achar na internet o cartão de imigração de meu pai. Don Juan Carlos veio para o Brasil em 1968, sem parentes aqui, buscando um lugar melhor para viver com sua esposa grávida.


Sem recursos, fez o que pode para sustentar sua mulher e filho, já nascido aqui. Chegou a fazer esculturas de papel-machê para vender na praça da República. Conseguiu um emprego de professor no curso Yazigi e lá ganhou de presente dos alunos o meu primeiro carrinho de bebê.
Mais tarde, por ser fluente em 3 ou 4 idiomas, conseguiu emprego de recepcionista no hotel Ca'D'Oro. Durante um assalto um bandido colocou o cano de um revolver em sua boca e quebrou todos seus dentes da frente.

Tempos depois, já com a boca restaurada (despesa paga pelo hotel), ele impressionou com seus conhecimentos variados um executivo que se hospedara lá. O estranho entregou-lhe o cartão e pediu para que meu pai fosse até seu escritório.
Meu pai, mesmo descrente, acabou indo ao escritório do estranho, que era na verdade um diretor de uma empresa que estava chegando ao Brasil, a Makro Atacadista. Meu pai foi um dos primeiros funcionários da empresa no Brasil, onde continuou trabalhando até sua morte em 1985. Eu tinha então 16 anos.
Eu nunca tinha encontrado nada sobre meu pai na internet. Ver o seu cartão de imigração foi muito emocionante para mim. E tenho muito orgulho de lembrar de sua história. Ele tinha dado entrada nos papéis para se naturalizar brasileiro, mesmo tendo garantido residência permanente no Brasil pois amava muito este país.
Que saudades, pai!!