sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A volta do 3 DT

Recebi pelo RPG News do Talude a mensagem abaixo sobre a volta do 3 DT, talvez o melhor sistema nacional para iniciantes criado até hoje. Na minha posição atual, não é correto opinar sobre lançamentos do mercado, mas não existe lá muita ética no cenário do RPG e a maior parte dos jogadores nem quer saber como se soletra essa palavra, então direi apenas duas coisas a respeito.

Acho muito positivo que de novo exista um sistema atualizado e simples que sirva para introduzir pessoas que não conheçam o RPG.

Por outro lado, simplesmente revitalizar um sistema antigo não estimula nada a criação de novas propostas. Por que alguem vai querer investir tempo e dedicação a criar algo realmente novo se as editoras nacionais continuam sempre investindo nos mesmos produtos?

Mas vamos a mensagem...

Por Jambô Editora

Este diálogo aconteceu via MSN de forma mais ou menos fiel (eu gostode editar os textos; velhos hábitos não morrem) no dia 17 de maio,entre Guilherme Dei Svaldi, editor na Jambô Editora, e eu.

Guilherme: Cara, tu tinha que estar aqui na loja agora...

Capitão Ninja: É? Por quê?

Guilherme: Um pessoal organizou umas mesas de RPG de Harry Potteraqui, tem umas trinta pessoas jogando 3DT.

Capitão Ninja: Isso não é possível!

Guilherme: Estão usando a adaptação de Harry Potter que saiu na DragãoBrasil.

Capitão Ninja: Mas pessoal não larga mesmo o 3DT...

Guilherme: Não tem sistema melhor para leigo.

Capitão Ninja: Fala que eu mando um abraço, e que eles são teimosos feito mula.

Guilherme: Hahahahahah

Capitão Ninja: Tive uma idéia maluca agora. Vem cá, por acaso vocês querem fazer um novo Manual 3DT?

Guilherme: Nunca pensei nisso...

Capitão Ninja: Nem eu. Até agora.

Guilherme: Que um sistema para iniciantes está fazendo falta no Brasil é evidente.

Capitão Ninja: Você sabe, eu parei de trabalhar com 3DT porque a antiga editora deixou de fazer os acertos de direitos autorais.

Capitão Ninja: E pior, usavam a verba das vendas para sustentar a Dragão (quer dizer, aquilo em que a Dragão se tornou) depois que saímos.

Capitão Ninja: Esses são problemas que não existem mais.

Guilherme: Temos que ver até que ponto Reinos de Moreania vai cumprira função de RPG para iniciantes. Porque dependendo disso, valeria ou não investir no 3DT.

Capitão Ninja: Bom, Moreania não pode substituir 3DT porque não é genérico. É bem específico para estilo D&D.

Capitão Ninja: Moreania é introdutório para o próprio D20, que é o carro-chefe da editora.

Guilherme: E 3DT, atrai para o RPG em si.

Capitão Ninja: Sim. Mas vejam aí o que acham melhor.

Prometi ao Guilherme dar uma olhada no material, avaliar quanto precisaria ser mexido. A idéia avançou. O trabalho, também.

Relembrando (e copy/colando): 3DT nasceu em 1994. Começou com poucas páginas, muito simples, como tantos outros nos Estados Unidos — onde RPGs em forma de fanzine existem aos milhares. Cinco atributos básicos, um punhado de vantagens e desvantagens. E um tema da moda: em plena febre dos Cavaleiros do Zodíaco, o jogo era uma sátira aos heróis japoneses e seus golpes mirabolantes, ataques acompanhados degritos, e estranhos códigos de honra. Daí o nome, Defensores de Tóquio.

No ano seguinte, ganharia uma nova edição sem grandes diferenças mecânicas. Advanced Defensores de Tóquio, abreviado para ADT. Referência ao contemporâneo AD&D, Advanced Dungeons & Dragons. Mas ainda um jogo para rir das séries nipônicas.

Sua terceira versão seria, esta sim, revolucionária. Licenciando games famosos como Street Fighter, Mortal Kombat, Darkstalkers e Megaman, o novo 3DT — Defensores de Tóquio 3ª Edição — agora existia na forma de pequenos módulos, formando mini-jogos fechados. Novas regras seriam acrescidas com o tempo, através de artigos em revistas. Em breve tínhamos o primeiro grande módulo básico, o Manual 3D&T. Ele ganharia uma versão Revisada e Ampliada, e ainda uma Turbinada.

Podia ter acabado ali.

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Não disse ao Guilherme naquele dia, mas eu tinha outra razão para não querer escrever mais 3DT. Dez anos trabalhando com vários sistemas de regras, em matérias na Dragão Brasil, me ensinaram que fica impossível atender ou dominar profundamente qualquer um deles.O mundo de Tormenta, por exemplo, nasceu como um cenário multi-sistema para ADD, GURPS e 3DT. Mais tarde houve ainda uma edição paraTrevas. Regras que um jogo tem, o outro não tem. Era difícil demais lidar com atributos, tendências, níveis, pontuações... Enfim, tornar o material harmonioso com tantos jogos diferentes.

Claro, havia a escolha de produzir material diferenciado para cada sistema. Mas éramos (ainda somos) um grupo pequeno de autores. Mesmo trabalhando em tempo integral, dar suporte específico a tantos jogos era impossível. E outra coisa: alguns daqueles jogos não eram nossos,e nem tinham Licença Aberta. Dar suporte a seus jogadores é responsabilidade de seus autores, suas editoras. Nossa obrigação é para com o nosso público.

Quando o Sistema D20 e sua Licença Aberta surgiram, no ano 2000,nasceu a solução para nosso problema. E também a chance da realização de nosso sonho: escrever um cenário pleno para Dungeons & Dragons, nosso RPG favorito em todos os tempos.

Por tudo isso, e também após desentendimentos infelizes (para dizer o mínimo) com a nova administração da antiga editora, 3DT ficou de lado. Nos aliamos à Editora Mantícora para começar a DragonSlayer, revista dedicada apenas ao Sistema D20, para concorrer com a DB (e vencer, todos vocês já sabem). Tormenta, por sua vez, tornou-se oficialmente um cenário D20 na editora Jambô — onde vai muito bem, obrigado.

A Licença Aberta D20 sempre pareceu para nós uma ótima idéia. Sim,desde o começo, mesmo quando tanta gente pregava o apocalipse e temia o fim dos outros jogos, "o Um Sistema para a todos dominar". (E ainda há quem ache inteligente tomar decisões autorais baseadas em listas dediscussão, fóruns e comunidades na Internet...)

Eu e meus colegas fizemos o que pudemos para ajudar essa idéia acrescer por aqui. Trabalhamos em material para novos jogadores, como Ação!!! e Primeira Aventura. E eu tentei o Manual 4DT, uma fusão entre Defensores e o Sistema D20; assim, os "3DTistas" também poderiam mudar para o Sistema D20.

É muito melhor trabalhar com um só sistema de regras. Em vez de perder tempo e esforço com versões diferentes do mesmo livro, pode-se passar logo para livros novos. Parecia um bom plano. Mas tinha uma falha.

Quem jogava 3DT, não queria parar.

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Haveria um novo Manual 3DT. Novo, mas ainda trazendo o número 3. Qualquer fã sabe que eu procuro inspiração em Street Fighter para darnomes ao livro básico. SF II foi o primeiro grande sucesso do game. SFIII não agradou tanto (muita gente adora a jogabilidade, mas o elenco tinha o carisma de uma beterraba). Então veio SF Zero — ou Alpha. Uma volta às origens, mas com novos lutadores.

A primeira versão de 3DT foi, justamente, uma adaptação oficial licenciada de Street Fighter Zero 3.

O nome estava resolvido. Essa parte foi fácil. O que mais podia mudar?

* O sistema de combate, absolutamente, não foi mexido. Ainda é Força de Ataque (Força ou Poder de Fogo + Habilidade + 1d) contra Força de Defesa (Armadura + Habilidade + 1d). Mas algumas manobras mudaram. Agora, em cada turno, você pode realizar uma ação (ataque ou magia) e um movimento, ou dois movimentos. Sim, é parecido com o Sistema D20.

* Percebi que muitos grupos jogam apenas com personagens de pontuação máxima (12 pontos) por ser muito difícil construí-los com menos. Por isso, muitas vantagens tiveram seu custo reduzido. Quase todas custam 1 ou 2 pontos, e apenas as mais fortes custam 3 pontos ou mais.

* Quase todas as vantagens antigas ainda estão aqui, mas com modificações mecânicas. No geral, ganharam algum benefício mais palpável em termos de jogo: Mestre (agora Mentor), Patrono e Riqueza quase não afetavam um personagem focado em combate. Isso agora mudou.

* Não há mais diferenças relevantes entre Aliados e máquinas. Agora, um robô ou veículo é simplesmente um Aliado construto. Uma nova manobra para comando de Aliados permite pilotar veículos, controlar robôs gigantes e também atuar como treinador de monstros.

* Há várias novas vantagens únicas (que representam raças), e todas foram organizadas em grupos. São eles: humanos, semi-humanos, humanóides, youkai, mortos-vivos, construtos. Muitas também tiveramseu custo reduzido: quase todas custam 0 ou 2 pontos, e nenhuma custa mais de 5 pontos.

* Antes, 3DT tinha duas escalas de poder — normal e gigante. Agora, as quatro escalas de poder usadas em 4DT também valem aqui: Ningen (humano), Sugoi (incrível), Kiodai (gigante) e Kami (deus). Cada uma multiplica por dez a escala anterior.

* O sistema de magias muda por completo. O Manual da Magia é uma promessa antiga e nunca realizada (esse nome deve trazer alguma maldição...), então desisti dele. As novas regras que eu planejava incluir nesse acessório agora estarão no livro básico, substituindo o sistema antigo. Não há mais Focus, mas sim três vantagens mágicas: Magia Branca, Magia Negra e Magia Elemental (que inclui Água, Ar,Fogo, Terra e Espírito), por 2 pontos cada. São regras parecidas com uma adaptação do anime Slayers publicada na antiga Dragão Brasil (que estranho... Lembro que o Trevisan escreveu boa parte daquela adaptação, mas ele jura que nunca viu um episódio de Slayers).

* Armadura Extra, Vulnerabilidade e Invulnerabilidade não têm mais custo em pontos. Elas só podem ser adquiridas como parte de vantagens únicas, ou através de magias e itens mágicos.

* Telepatia não é mais um requisito para magias mentais (elas fazem parte da escola Elemental/Espírito). Esta vantagem agora tem várias outras utilizações.

* Inimigo deixa de ser uma desvantagem. É isso mesmo, acabou o tempo em que você ganhava 2 pontos por adotar um Inimigo poderoso, e passava a campanha inteira sem nunca encontrá-lo! Inimigo agora é uma vantagem, que oferece bônus em combate contra as criaturas que você odeia (é parecido com uma habilidade dos rangers de D&D).

* Arma Especial não é mais uma vantagem. Todos os itens mágicos são comprados com Pontos de Experiência.

* Não há tabelas de armas. 3DT nunca terá tabelas de armas. De jeito nenhum.

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Foi esquisito voltar a ler aquelas regras. O antigo Manual Turbo — a última grande reformulação, antes de 4DT — datava de fevereiro de 2003.

Mais de cinco anos, praticamente sem suporte. E as pessoas ainda jogam! (E o mais engraçado; os perdedores frustrados de sempre acusavam que 3DT só era sucesso porque tinha matérias na Dragão todos os meses...)

Eu nunca entendi isso. Sério. 3DT sempre foi um jogo para atrair novatos, para introduzir novos praticantes ao hobby. Em minha opinião— sem falsa modéstia —, existem muitos outros RPGs muito melhores.(Nota: o Guilherme reclamou sobre este comentário, mas o que posso fazer? É verdade...)

Cinco anos jogando 3DT, sem mudar para algo diferente, para mim é coisa impensável. Impossível.

Deve ser verdade que "em casa de ferreiro, espeto de pau". Por ser o autor, talvez eu não consiga achar o jogo tão divertido. Talvez 3DT seja mesmo completo, satisfatório. Quem joga, não precisa necessariamente mudar para algo mais complexo.

O Manual 3DT Alpha não é um jogo novo, assim como o Manual Turbo também não foi. É o mesmo jogo com pequenas melhoras. Se você tem qualquer dos manuais anteriores, não posso dizer que vale a pena adquirir este. Exceto, talvez, pelas ilustrações: eu tive a sorte incrível de poder contar outra vez com a Erica "Holy Avenger" Awano para novas aberturas de capítulos — ela havia acabado de desenhar aúltima parte de DBride, e já estava de partida para um novo grande projeto. Vocês logo devem ouvir falar. Não posso prometer que 3DT terá qalquer suporte por parte daDragonSlayer. Trabalhar com outros sistemas que não sejam D20 não é a proposta da revista. Além disso, estaríamos voltando ao antigo problema: lidar com dois sistemas, sem ser totalmente fiéis a nenhum.

Não posso prometer, também, que cada título de Tormenta ganhará um equivalente oficial para 3DT. Isso já era difícil antes, quando ser autor de RPG era meu trabalho de tempo integral (hoje voltei à minha antiga profissão como roteirista de HQs; em média escrevo mais de cem páginas mensais para este e o outro hemisfério).

Não posso prometer, mas também não posso negar que há uma chance. Porque vocês — o público "3DTista" — conseguiram manter vivo este jogo quando eu mesmo havia desistido dele. Conseguiram me fazer voltara acreditar nele, voltar a investir tempo e esforço nele. Então, acho que vocês conseguem qualquer coisa.

Menos tabelas de armas. Não, diacho, não!

Marcelo Cassaro "Paladino"

Obs. As imagens mostradas aqui foram retiradas da Internet e os direitos pertencem a seus respectivos autores.

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