domingo, 27 de dezembro de 2009

Traduzido é mais caro! (republicação)


Embora esta matéria já tenha sido publicada no d3system (olhem aqui), é minha opção que todos os meus textos fiquem aqui guardados, então vou reproduzi-los aqui no meu pedaço!

Passeando rapidamente pelo orkut, encontrei um sujeito numa das comunidades dizendo que não se importava se Call of Cthulhu fosse traduzido ou não, pois “a versão da Devir sempre era mais cara que a original”.

Caramba, mas é óbvio que TEM que ser mais caro!!!

Não são poucos aqueles que acham espantoso o fato de qualquer livro traduzido ser mais caro do que a versão em seu idioma original.

— É o mesmo livro, com as mesmas ilustrações, e ainda tem uma qualidade de papel inferior. Como pode ser tão mais caro se livro não paga imposto?

Explico. Vejamos alguns exemplos:

D&D Livro do Jogador:US$34,95 X R$79,90
Vampiro o Réquiem :US$34,99 X R$84,50
Reinos de Ferro:US$39,99 X R$89,90

É claro que é possível encontrar exemplares mais baratos em promoção, mas o preço básico de cada um é esse. A cotação do dólar segundo o Google hoje é 1 dólar =1,7250 reais, ou seja, uma sensível diferença. Então, aonde esta o “catch”?

Bem, começa por um pequeno detalhe que muitos esquecem, que é a tiragem. Quanto mais exemplares a gráfica imprime, mais barato será o preço por unidade. Por tradição e conveniência, nenhuma editora, independente do ramo de publicações, diz abertamente qual a tiragem de seus livros, mas podemos supor que dificilmente qualquer título passe de três mil exemplares no caso de livros básicos de RPG. E duvido sinceramente que qualquer suplemento chegue a esse número.

Bem, as editoras americanas também não costumam divulgar abertamente seus números, mas é difícil acreditar que, exportando para o mundo todo, as tiragens não sejam bem mais vultosas que nossas edições em português.

Na época do lançamento da 4ª edição de Dungeons & Dragons, a Amazon comprou um número realmente grande (comenta-se que o número seria na casa de cem mil exemplares de cada livro ou mais!) de cada um dos livros básicos, para conseguir vendê-los a preços muito baratos. Supondo então que o custo seja o mesmo, é meio lógico que haverá uma diferença nos valores de uma publicação com três mil exemplares de outra com tiragem de dez mil.

Alguns poderiam sugerir que então aumentassem as tiragens para baratear os livros, mas com o mercado atual isso seria arriscado. Há um prazo ideal de alguns meses em que a tiragem tem que se pagar, ou seja, as vendas tem que ser suficientes para pagar os custos da publicação. Se isso não acontece nesses X meses, pode causar sérias dificuldades para a editora, que não é capaz de simplesmente mandar imprimir dez mil exemplares e esperar dois anos para que a tiragem se pague.

O motivo principal é que geralmente os custos de impressão são pagos em quatro ou cinco parcelas, então para a editora não perder dinheiro o ideal é que essa despesa se pague nos primeiros meses de venda da obra.

Outra verdade cruel é que o parque gráfico americano é muito superior ao brasileiro, e alguns livros de RPG tem tantas nuances e particularidades que fica muito difícil encontrar uma gráfica que atenda todas as necessidades de algumas publicações. Os Ritos do Dragão, da Devir Livraria, teve sua publicação ameaçada devido a dificuldade em conseguirem uma impressão que se equiparasse ao original.

Mas por que não se entra em acordo com os gringos para publicar versões mais adequadas ao mercado brasileiro, como fez a Jambô com Mutantes & Malfeitores?

Bem, obviamente os únicos que conhecem os detalhes dessa negociação são os representantes da Jambô e da Green Ronin (corrigido pelo Nume Finório). Mas editoras como a Wizards of the Coast e White Wolf (e, surpreendentemente, algumas indies também!) são muito rigorosas em seus contratos, exigindo uma qualidade e condições idênticas aos originais, pelo menos nas publicações mais importantes. E poucos sabem as dificuldades para a confecção das capas duras, como reserva de verniz, papel laminado, hot stamp, etc.

E além dos gastos normais com qualquer livro, ainda há os gastos com tradução e a pérola do bolo: o pagamento para a dona dos direitos, assim como os direitos adquiridos de cada obra ou linha (sempre na casa de alguns milhares de reais) e os royalties devidos pela marca.

Então vejamos, para meu livro Feitiços & Faniquitos dar certo, eu tenho que arrecadar com ele o suficiente para pagar as custas de tradução, produção, impressão, distribuição, direitos, royalties… e ainda ter algum lucro! E nem falei de publicidade e divulgação, outro tema sempre discutido na comunidade de jogadores.

Ou seja, não dá realmente para os livros traduzidos serem da mesma qualidade (ou próxima) dos importados e terem o mesmo preço. É só fazer uma pesquisa e analisar os resultados.

Então, ou você se acostuma com a idéia de os livros traduzidos serem mais caros, ou considere a possibilidade de melhorar seu inglês.

Jaime Daniel, cujo professor de inglês se chama Vampire: The Masquerade

5 comentários:

Hrodebert Belgoni disse...

Achei ótimo o post, já tinha lido no D3. E sobre Call of Cthulhu boas noticias?

Rafael disse...

Acho que a alternativa mais fácil é CONSUMIR O QUE É NOSSO. Americano não gosta de filme legendado, americano não gosta de carro importado, americano não quer saber de tecnologia japonesa. Agora, brasileiro, só gosta quando é americano. Computadores, jogos, livros ou coisa que o valha. Brasileiro gosta quando é importado. Por isso não temos espaço pra o que é nosso. Por isso precisamos pagar mais. Por isso não vamos pra frente em nenhum sentido. Somos um espelho achatado do que os americanos têm. Por isso, bem feito pra gente.

Leandro R. Fernandes disse...

Americano não gosta de filme legendado, americano não gosta de carro importado, americano não quer saber de tecnologia japonesa. Agora, brasileiro, só gosta quando é americano.

E teríamos algo "nosso" imitando justamente o comportamento de quem gostaríamos de nos diferenciar? Perspectiva curiosa.

Klaus disse...

Em primeiro lugar... Evidência. Vomitar suas suposições não adianta nada, Rafael. Mas, claro, vamos fazer do seu jeito:

- Americanos não precisam de legendas, já que a maioria dos filmes que assistem é em inglês. Hollywood, conhece? Quanto aos estrangeiros, depende da pessoa, assim como em qualquer outro país.

- Americanos amam carros importados. Quando eles tem grana, bancam veículos japoneses e alemães.

- Americanos adoram não só tecnologia como cultura japonesa. Orientalismo está em alta por lá há um bom tempo já. E não precisamos falar só de otakus; em feiras de informática, a presença de empresas orientais é sempre bem expressiva;

Sim, é errado gostar de algo automaticamente simplesmente por sua nacionalidade - seja de fora ou nativo. É insuportável esse papo de "temos que valorizar o que é BRASILEIRO, SAMBA, ESQUIDUM, GOOOOOL". Não, nós temos que valorizar o que tem qualidade, e não interessa seu local de origem. Se tantas produções brasileiras não são atraentes, elas devem ser ignoradas e desprezadas, não abraçadas por um senso de comunidade deslocado.

Anderson Gomes disse...

Poxa Klaus, um tanto quanto direto e duro em seu argumento, mas muito bem colocado. Conseguiu resumir tudo em

"nós temos que valorizar o que tem qualidade, e não interessa seu local de origem. Se tantas produções brasileiras não são atraentes, elas devem ser ignoradas e desprezadas, não abraçadas por um senso de comunidade deslocado."

Muitas pessoas pessam que patriotismo é torcer pelo Brasil na Copa ou nas Olimpíadas, coisa estranha já que, tirando os esportes fortes como futebol, vôlei ou mais um ou dois, os outros esportes praticamente tem que pagar para ter condições de ir para as Olimpíadas, sendo que durante o ano todo são raros os patrocínios que recebem.

Embora não seja uma analogia muito apropriada, mas isso também demonstra como o pessoal reaje em relação a produtos nacionais.