Qualquer jogador (ou mestre) com um pouco mais de experiência e que não ficou jogando X anos
sempre com os mesmos jogadores, já deve ter ouvido falar de alguem que teve uma experiência parecida.
Souza: Ei, você joga RPG?
Jaime: Sim, jogo!
Souza: Putz, como você consegue?
Jaime: Ué, eu gosto! É um jogo muito divertido!
Souza: Olha, até parece ser, mas caraca, quanta regra! Um chegado uma vez foi me ensinar... "mestrar"... é como chamam, né?
Jaime: Isso! E como foi?
Souza: Ih, cara, nem rolou! O cara começou a falar de C&A, bônus disso e daquilo, elfo, orc, classe, nível... eu desisti! Negócio complicado! A gente só queria passar um tempo até o resto da galera chegar... desistimos!
OK, substitua os termos usados por clã, habilidades, força de vontade, pontos de experiência, qualidades e defeitos, atributos... meu Deus! Isso assusta qualquer um que nunca tenha jogado algo parecido.
De setembro a dezembro de 2003 e de março a dezembro de 2004, eu participei pela LUDUS CULTURALIS do projeto
RPG nos CEUs em parceria com a Prefeitura de São Paulo. Durante esse período fizemos, no total, 190 visitas, e mais de 4.000 pessoas passaram pelas bibliotecas para conhecer e jogar RPG com o auxílio de 134 voluntários.
A gande maioria desse público era composta por crianças que passavam na biblioteca e ficavam curiosas sobre o que era esse tal de RPG. Em geral essas crianças tinham lido muito pouco, para não falar daquelas que NUNCA tinham lido um livro na vida. Agora, imaginem se começassemos a falar de atributos, testes de perícia e por aí vai... Dá para entender? Sim, mas somente se a pessoa estiver com paciência E tempo pra aquilo. Tivemos que apelar para personagens de desenhos animados com fichas que em alguns casos tinha apenas nome e um desenho do personagem...
E, por favor, não venham me dizer que sistemas com oito atributos e um monte de perícias é o mais simples para iniciantes...
Os mestres de RPG esquecem que o iniciante deve ser cativado pela beleza do jogo, e não simplesmente pelo conhecimento das regras. Estas tem que vir no decorrer do aprendizado. A não ser uns poucos autodidatas, ninguém precisou decorar TODO o livro de regras para jogar D&D, Vampiro ou GURPS pela primeira vez.
Dependendo do local e situação onde se dará esse primeiro contato do neófito com o jogo, pode não haver tempo ( e também ser inútil!) de ficar explicando interminavelmente quais são as penalidades por estar atirando com uma funda pendurado do lado de fora de uma janela numa corda em plena noite de tempestade. "
Ah, joga o dado e tira o número mais alto que der..."Eu sempre cito como exemplo um grande amigo meu que conhece Legends of Five Rings como ninguém, e foi quem me inoculou o "vírus Rokugânico" (piada para quem joga L5R). Ele sempre vai nos EIRPGs para mestrar L5R. Fica um bom tempo explicando os clãs, a história, a sociedade, as tradições do cenário... até que o fiscal passa por ele e avisa que tem que terminar a aventura em 15 minutos...
Cruel, hein?
Hora do óbvio: para iniciante tem que ser coisa fácil. Tirando alguns casos excepcionais, o iniciante não quer perder duas horas para entender o jogo, ele acaba cansando e vai para a lanchonete! Então coisa rápida! Se você tem fichas prontas, use e diga que muita coisa ali não vai ser necessária agora, somente numa próxima vez, se o jogador se interessar. Ou nem use ficha! Diga qual o cenário do jogo, peça uma descrição de 3 minutos sobre o personagem e bola uma história! Diversão é a alma do RPG, então vamos nos divertir!
Como eu sempre digo, não adianta ficar palpitando, tem que por a mão na massa! Durante o fim de semana vou postar um material que é bem específico para quem nunca jogou e quer apenas entender o que é RolePlay. Será muito útíl principalmente para lidar com crianças.
Não percam
Nesta mesma bat-hora!
Neste mesmo bat-canal!