segunda-feira, 11 de agosto de 2008

História de uma vida

Apesar de que o termo aventura faz uma analogia automática na mente de muito jogador de RPG, hoje não falo sobre o Role Playing Game. Quem quer ler sobre isso passe outro dia porque o assunto é outro. E não é agradável.

Falo de uma outra aventura que todo mundo passa por ela, de uma forma ou outra, com curta média ou longa duração, emocionante ou tranquila, com muitos, muitos NPCs. A aventura que chamamos de vida.

Neste fim de semana o pai de um amigo meu faleceu. Uma morte sofrida, vários dias no hospital, tentativa de transplante... enfim! O Fim chegou. Uma saída de cena de alguém que deixa família, amigos e colegas de profissão com muita tristeza e saudades. Sendo brutalmente sincero, conheci pouco essa pessoa, mas foi o suficiente para perceber que ela fará falta no meu universo.

O filho dessa pessoa é um amigo de longa data, creio que já devem fazer uns dez anos que nos conhecemos. Hoje ele acabou de se formar advogado na São Francisco, mas quando o conheci não tinha direito de votar. Nossa amizade já passou por várias fases e hoje temos uma certa distância por circunstâncias diversas, mas sempre admirei muito esse rapaz, e mesmo quando ainda era um pirralho, eu sempre disse que ele se daria bem na vida.

Hoje ele não esta se sentindo nada bem. A vida não tem sentido, é extremamente injusta, só garante sofrimento e sempre chega ao fim.

Não, não é bem assim!

Eu tenho hoje 39 anos e 92 dias. Não tenho certeza, mas a média de vida do brasileiro deve ser algo em torno dos setenta anos. OK, então eu já passei da suposta metade da minha vida. Meu carrinho já alcançou o topo e agora esta descendo a ladeira. E provavelmente a melhor fase já passou, pois quando você é jovem tem mais saúde, vigor e otimismo em relação ao futuro. Claro que eu posso ser uma das exceções e viver até os cem anos, mas isso também pode valer para o outro lado e eu morrer ainda este ano...

Infelizmente quando chegamos no mundo ninguém nos entrega um certificado de Boa Vida. Não adianta nascer príncipe ou herdeiro de milionários, isso não garante nada! Nossa vida é um caderno em branco, onde de vez em quando alguem coloca um comentário. É a mais incerta das aventuras, porque não há certeza de nada! Você pode alcançar status, pode tornar-se um criminoso, pode encontrar o amor da sua vida, pode perder aquele que você mais ama... e não há como ter certeza que o mestre vai "dar um jeitinho" ou uma "roubada" nos dados. Não há como ler o final da aventura, baixando na internet...

Por mais triste que seja, toda história PRECISA ter um fim! Se não houver um desfecho, um final, uma mensagem, ela não tem significado. E então, o que fica? O que sobra?

Eu tinha 15 anos quando perdi meu pai, uma idade complicada, e uma falta muito doída. Muita coisa ficou inacabada ou mal-resolvida. E a marca ficou até hoje, faz parte do meu ser, de quem eu sou, e vai continuar de um jeito ou de outro, pro bem e pro mal. Mas a minha história continua! Entre todas as contribuições que ele deixou para o mundo há também a possibilidade da minha história ser contada, talvez desinteressante, talvez pouco heróica, mas é a MINHA história. Onde tive muitos momentos emocionantes, como o primeiro beijo, a primeira transa, primeiro vestibular, primeiro concurso, amizades, paixões, viagens, diversão, dança, RPG... e muita tristeza, com mortes, perdas e fracassos. Mas a minha história continua. Não sei se vou ter a oportunidade de deixar alguem que possa continuar a minha linhagem, mas enquanto alguem lembra de nós ou de nosso nome, nossa história continua a ser contada, mesmo de forma resumida.

Eu li agora a pouco que a vida é dor. Sim, mas não só isso. É a mesma coisa que dizer que chuva é água ou que a vida é uma célula fecundada. A vida é mais do que isso. É algo maior que isso. É maior do que nós. É algo que permite que você conheça aquela pessoa muito especial, aquela noitada fantástica com seus amigos, proporciona encontros de família com aqueles almoços memoráveis, a alegria de conseguir aquela vaga que você tanto almejou, aquela compra que você esperou tanto para fazer, ou aquela história que você tanto queria contar. Viver é isso! É contar uma história que um dia chega ao fim, porque toda história tem um fim.

Provavelmente esse meu amigo não irá ler este texto, pois creio que ele nem sabe que eu tenho este espaço. Mas depois de passar o fim de tarde do dia dos Pais num cemitério, ouvindo choro e bem-te-vis, isso ainda esta meio marcado na minha mente. E eu tinha necessidade de dizer algo a respeito. Não tenho medo do final da história, não sei qual o final ou quando será, mas planejo tentar extrair o máximo dela. Porque a vida é uma história que sempre vale a pena!

E eu adoro contar histórias...

2 comentários:

Leona Alea disse...

Como dizem. "Navegar é preciso, viver não é preciso".

Jan disse...

Lindo texto, Jaime. Se me permite, um poeminha de uma paixão minha, que faleceu em 1988 (choro por ele até hoje / o poema tá sem quebras de parágrafo): "Viver é preciso. É mais do que preciso. É necessário. Mesmo que não sejamos voluntários. A vida vai te cobrar a semente do amanhã. No desenrolar dos sonhos verás o enigma do que não fomos te pressionar. Levanta-te e apressa-te, pois nada é premeditado. O cavalo da vida está sempre pronto e selado para um novo cavalgar." - Valdir Nunes dos Santos.
20/07/1964 - 04/02/1988.
Bjs! Janaína.